SAUDADE RENITENTE
Romildo Labigalini/Fev. 2003
Sempre que a saudade aperta “mio cuore”, vou visitar meus estimados parentes no Paraná. Nossos encontros amenizam essa saudade ao vê-los alegres e com saúde.
Geralmente a conversa gira em torno de nossas reminiscências, onde nascemos, no Bairro Labegalini, aqui nas Minas Gerais. Italianos gostam de recordar. Este ano a viagem foi muito especial, pois eu e minha esposa Nilza fomos padrinhos de casamento da Patrícia com Fernando.
Esse convite nos alegrou profundamente e chegamos à conclusão de que somos muito estimados pelos noivos, seus familiares e todos os parentes.
O enlace na Igreja de Marumbi foi lindo e emocionante. A recepção, no clube local todo enfeitado , música ao vivo, e o reencontro com parentes que há muitos anos não víamos, foi gratificante.
Os pais da noiva, Euclides De Nez e Janice Labegalini De Nez e a filha Aline, são companhias muito agradáveis. Dá vontade de ficar sempre ao lado deles. O avô da noiva, Santinho Labegalini, estava bastante alegre e muito elegante no casamento. Por falar em Santinho, ele é meu tríplice parente: primo, tio e padrinho. Gosto demais do “maledetto” que me batizou. Com 85 anos, olhos azuis, parecido com o ator Anthony Quinn (do filme “Zorba, o Grego”), tem uma excelente memória. Como todo italiano, é despachado e franco. O que ele acha correto, fala, sem rodeios. E ainda gosta de jogar truco, e muito bem. Todas as partidas que joguei contra ele e seu genro Euclides, não venci nenhuma. Ou eles são bons no baralho ou, eu, ruim.
Hoje, viúvo, morando sozinho (sua filha Janice é quem cuida dele), o velho guerreiro sente solidão. Ele gostaria de ter ao seu lado uma companheira para ouvir seus queixumes, suas histórias e “prosear”.
Nas tardes domingueiras, acomoda-se em sua cadeira preferida, entrelaçada com fitilhos redondos de plásticos, na área de sua casa e assiste de “camarote” partidas de futebol, sua grande paixão, no campo do outro lado da rua.
Embora com os olhos fixos no jogo, as névoas do seu pensamento divagam em recordações:
“Quantas e quantas partidas de futebol joguei durante a minha mocidade no Bairro Labegalini, ao lado de meus primos e tios (hoje muitos deles jogando no céu)... meus saudosos pais Vitório e Rita... os nonos Luigi e Lucia triturando milho na pedra movida a rodão d’água, transformando-o em fubá mimoso. Que delicia a polenta com radicci... os tios tocando e cantando canções de saudade da Itália.
O grande “vinhetto” abarrotado de cachos de uvas, prontos para serem colhidas e transformadas em vinho... o cheiro doce-azedo da adega, os barris guardados pelo frescor do porão da casa do nono (casona, para nós)... os bailes na tulha, quando meus olhos travessos escolhiam a moça mais bonita para dançar, aconchegando-a para bem perto do meu corpo, sentindo aquela sensação de que estava flutuando... o casamento com minha amada esposa Páscoa , baixinha, alegre e sempre risonha, companheira em todos os momentos, no trabalho duro, nas diversões, na criação e educação dos filhos... filhos, hoje todos casados, seguem sua própria vida, trilhando seus caminhos. Que Deus os abençoe e também aos netos e bisnetos... o tempo encarregou-se em tingir de flocos de algodão os cabelos de minha querida esposa, que foi ao encontro de seus pais e também dos meus... QUANTA SAUDADE , DIO MIO! QUANTA SAUDADE !”
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