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sábado, 28 de julho de 2012

Tio João Batista Labigalini

Casamento de Tio Batista com Tia Sebastiana - 1922.

Tio Batista, quando criança era um verdadeiro “capeta”. Estava sempre “maquinando” alguma coisa para fazer suas travessuras.
Eis algumas delas:
                                                TRAVESSURAS DE TIO BATISTA
           
                                                                     A PIMENTA
    No bairro Labegalini, nos seus 10 anos, ele e seu irmão Antônio (6 anos) tinham um carrinho puxado por dois carneiros, um dos carneiros eram bravo. Tio Batista sempre mandava tio Antônio pegar o bravo no pasto. Um dia tio Antônio recusou. Mas isso não ia ficar assim. Quando os dois estavam indo para a escola no bairro, tio Batista avistou um pé de pimenta comari madurinha. Já sabia o que iria fazer. Na volta, sem que tio Antônio percebesse, ele catou umas pimentas. Agarrou tio Antônio pelo pescoço e perguntou:
 - Antônio, o que é que você tem nos olhos?
Tio Antônio respondeu que não tinha nada e abriu os olhos.
Tio Batista espremeu a pimenta e pingou nos olhos dele.
Tio Antônio rolava pelo chão de tanta dor. Quando chegou em casa tio Batista levou uma surra de seu pai.
    
                                                      O MATADOR DE PINTINHOS
    Estavam indo para a escola. Quando iam passando em frente a casinha do Chico Franco, que tinha malhado feijão na véspera, ainda havia muitas palhas e as varas usadas na batida do feijão, no terreiro. Algumas galinhas e seus pintinhos ciscavam o chão. Ele se virou para seu irmão Antônio e disse que na volta iria matar os pintinhos. Não deu outra. Pegou a vara e matou mesmo todos os pintinhos. O maestro Epifânio, que morava em frente, viu tudo e gritou para ele: - “Batisti, canalha sem-vergonha, malcriado, desordeiro, maldito, amanhã vou contar tudo para seu pai.” E contou, tio Batista apanhou “pra cachorro”.

                                                                 O ARTESÃO
    Já rapazinho, aprendeu a fazer guasca de couro e vendia por 500 réis. Como não tinha dinheiro para comprar o material, arquitetou um plano: Seu pai tinha uma bela cabra branca, que dormia ao lado do chiqueiro. À noite tio Batista pegou uma lasca de madeira e bateu na cabeça da cabra, matando-a. No dia seguinte seu pai viu cabra a morta e a nona já veio chorando com pena dela. Acharam que havia morrido de doença. Ele ficou quietinho. Como seu pai ia jogá-la fora, tio Batista a pediu. Tirou o couro dela e fez laços e guascas. Era “marvadinho”.

                                                                 NA ENCHENTE
    Quando moço, tio Batista estava regressando da casa da sua namorada (tia Sebastiana), à cavalo. Estava chovendo bastante e o rio Eleutério muito cheio. Uma grande enchente. Ele queria voltar para casa e resolveu atravessar i rio. Do outro lado havia uma casa do seu amigo Joaquim Alves. Quando a esposa deste viu tio Batista chegar na beira do rio, gritou:
 - Batista, não faça isso. Faz três dias que ninguém consegue passar.
Teimoso como era, esporeou o cavalo, que se atirou ao rio, ficando somente com a cabeça de fora. A água batia na cintura do tio Batista. Quando estava no meio do rio, pensou que ia morrer. Pulou do cavalo e a correnteza foi levando os dois. A senhora que a tudo assistia, rezava para Nossa Senhora Aparecida para que ele se salvasse.
Ele afundava e boiava. Mais a baixo havia uma curva no rio e algumas árvores tinham seus galhos cobertos pela água. A correnteza o levou naquela direção e ele agarrou um galho. Estava de paletó, sapato, polaina e fazia esforço para tirá-los, pois estavam muito pesados. A senhora veio correndo com uma corda, atirando-a em sua direção e conseguiu puxá-lo. Ele sentou-se no chão e começou a chorar, agradecendo por estar salvo. Ela o levou para dentro da casa, fez um café forte e o serviu. Partiu para sua casa à pé.
O cavalo também conseguiu se safar. Estava em pêlo, sem arreio, rédeas, nada. Ele sempre dizia que tinha recebido um milagre.
                                                                      **************
    Tio Batista sempre foi o mais alegre e divertido dos irmãos. Cantava, tocava sanfona, jogava futebol, dançava, bom comunicador. Casou-se com Sebastiana Brischiliari e tiveram 5 filhos: Assunta Aparecida, Mario, Ugo, Nelson e Cláudio.
    Quando se casou houve uma grande festa em que ele também tocou sanfona. Foi viajar para Aparecida do Norte onde ficou oito dias passeando. Quando voltou teve outra festa com mais de cem pessoas entre familiares e amigos. Trabalhava na lavoura e molhava duas camisas por dia. Na enxada era sacudido, sempre tirava meia tarefa a mais do que os outros. Ainda sobrava um tempinho paras comprar aves e ovos, que revendia para o Cesário Leite em Jacutinga, transportando em uma carroça. No retorno trazia mercadorias: macarrão, açúcar mascavo, farinha de trigo, querosene para as lamparinas, sal e aviamentos para revender: ramona, colchete, botões, brim cáqui, botina e outros.
    Era sanfoneiro de primeira – aprendeu a tocar sozinho – e tocava em festas de casamento e em bailes, aos sábados, na tulha do nono Luigi, sempre lotada. Meia hora antes do inicio do baile, havia o espetáculo de marionetes do Bepino Valdissera. Os bailes eram tão animados, que vinham pessoas dos bairros vizinhos e de Jacutinga. Nesses bailes o conjunto recebia dez mil réis por noite. Miguel Preto integrante do conjunto tocava violão e quando ele cantava a seguinte música ninguém ficava sentado:
    “Eu não bebo pinga
      Eu não bebo nada
      Loirinha do cabelo loiro
      No meio da muierada”.
    Quase todas as tardes tio Batista pegava a sua espingardinha e ia caçar debaixo dos pés de amora e laranja. Tinha muitos pássaros, sabiá do campo, juriti, sanhaço e sanhacira. Enquanto tio Batista abatia as aves seu filho pequeno Ugo, as juntavam.
        
                                                           O CONQUISTADOR
    Tio Batista já era casado e tinha dois filhos. Era um homem bonito, alto, olhos azuis, um “tipão”. Com sua sanfona “Stradella” conquistava muitas admiradoras, mas era um “pelandrão”. Enquanto tocava, ficava observando as moças mais bonitas do salão. Era um verdadeiro “gavião” e não podia ver rabo-de-saia. Quando via uma moça bonita, passava a sanfona para o Zé Amador e ia dançar com ela. Certa noite foi tocar num bairro vizinho e conheceu uma linda moça de Jacutinga. Dançaram naquela noite, nas outras também e começaram a namorar porem ela não sabia que ele era casado, ele não disse.
    Nos bailes seguintes a moça vinha e ficava na casa de parentes. Mas o que é bom dura pouco. A moça foi passear na casa de uma amiga que morava próximo ao Bairro Labegalini. Essa amiga a convidou para conhecer dona Lúcia Labigalini (mãe do tio Batista, ele juntamente com a esposa e os filhos moravam com ela).
    Num domingo, tio Batista estava na janela do casarão. Avistou lá embaixo duas mulheres que vinham em direção a sua casa e reconheceu a namorada. Antes que elas chegassem, deu uma desculpa para sua esposa, embrenhou-se no cafezal e ficou lá até que elas se retirassem. Voltou para casa desenxavido, xaveludo e triste com o fim do romance. A moça foi muito discreta, apesar de ter conhecido a esposa e os filhos do tio Batista, nada comentou, apenas deu um fim no namoro.
       
                                                                 O SOLDADO
    Corria o ano da Revolução de 1932.
Na Fazenda Labegalini todos estavam em polvorosa, com medo desta batalha. Tio Batista já era casado.
Apenas o colono Ditão gabava-se de que não tinha nenhum receio dos soldados, pois era muito corajoso.
Tio Batista, que desde pequeno era um “capeta”, arquitetou um plano para assustá-lo, tudo combinado com seu irmão Antônio.
Certa tarde, três dos colonos estavam lavando café, espalhando-o no terreirão de terra batida. Tio Antônio estava com eles. Tio Batista vestiu uma velha farda de soldado pertencente ao seu irmão Elias (herói da Guerra Íta-lo-Turca de 1912), colocou botas, quepe e apanhou uma espingarda. Caminhou até uma porteira perto dos colonos e que sua tropa estava na estrada ali perto, e que necessitava de um voluntário para guiá-los até Monte Sião. Tio Antônio respondeu que poderia escolher quem ele quisesse, Tio Batista apontou para o Ditão.
Este já amarelou, começou a tremer e disse ao “Oficial”:
 - Estou no cú da onça. Deixa ao meno eu i dispidi da minha muié i dus meus fio.
O “Oficial” concordou. Nessas alturas os outros dois colonos deram no pé.
Ditão saiu em disparada rumo à sua casa, mas mudou de direção e entrou na mata. Já estava escuro quando familiares e amigos foram procurá-lo. Gritaram seu nome e ele apareceu, ainda trêmulo, com os olhos arregalados e um bando de moças o acompanhava.
Disseram que tudo não passava de uma brincadeira, mas era tarde demais. Ele estava todo “borrado”, até dentro do sapatão. Durante uma semana ficou tomando chá de hortelã e erva-cidreira para se refazer do susto.
        
                                                               O CAÇADOR
     Tio Batista gostava de caçar passarinhos... e comê-los também. Fez uma ceva na beira da mata, onde colocava farelo de milho para atrair os pássaros. Juritis e rolinhas chegavam aos bandos.
Sempre deixava armada uma arapuca e pegava alguns pássaros. Mas ele queria pegar bastante, fazer uma “passarinhada”.
Tinha uma espingarda de um cano, de carregar pela boca. Foi até Jacutinga e comprou a munição: chumbo fino e pólvora preta e branca.
Voltou contente para a casa e todas as tardes iria caçar na ceva. Carne de passarinhos não mais iria faltar.
 À tarde foi municiar sua espingarda. Colocou chumbo, pólvora e bucha até a metade do cano e socou bastante com uma vareta. Queria fazer um “estrago”, matar mais de vinte rolinhas com um só tiro.
    Feito o “carregamento”, dirigiu-se à sua esposa e disse:
 - “Bastiana, pode começar a fazer a polenta, que na nossa janta vai ter muitas rolinhas”.
Pegou o embornal maior que tinha, colocou-o a tiracolo, apanhou a espingarda e partiu.
    Quando chegou à ceva já havia algumas rolinhas, mas eram poucas. Esperou mais e começaram a chegar. Ansioso, ficou atrás de uma árvore, apoiou a espingarda numa forquilha para dar maior segurança, puxou o gatilho e ... BUUUUMMMMM.
O impacto foi tão grande que ele caiu de costas. A fumaça era tão intensa que não enxergava mais nada. Pensou até que estava cego.
Quando a fumaça dissipou, olhou para a ceva e não tinha nenhuma rolinha abatida. Esvoaçaram todas com o estampido. Olhou para o resto que sobrou da espingarda: o cano havia estourado em mil pedaços. Estava segurando apenas a coronha da arma em suas mãos.
    Voltou para casa de mãos abanando, estropiado, sobrancelhas e cabelos –ainda os tinha- chamuscados e com os ouvidos zunindo.
Tia Sebastiana perguntou:
-Tista, onde estão as rolinhas?
Ele respondeu:
- Eu não consegui trazer nem a espingarda! As rolinhas, menos ainda.
Naquela noite o jantar foi apenas polenta.
      
                                                   O AVIÃO VERMELHO
                                                                           Ugo Labegalini
    Pela manhã, ainda escuro, saíam: meu pai, três enxadas sobre os ombros; minha mãe, carregando nos braços o nenezinho que mamava no peito  e depois dormia embaixo dos pés de café. Lá atrás, o irmão mais velho levava no bornal alguma comida preparada na madrugada, com o que se tinha.
    Na morada de barrote ficava a irmã, também a mais velha, cuidando da casa e de mim, ainda menino.
    Pai, mãe e filho labutavam de cedo à tarde puxando enxada no pequeno cafezal recebido de herança.
    O pai sempre levava vantagem saindo na frente, para depois poder ajudar a mãe apreensiva pelo bebê exposto às cobras e insetos, ao dormir sobre uns panos à sombra das árvores.
    Meu irmão, rapazote, com uma enxadinha dava o que tinha para deitar o mato encontrado pela frente.
    Após o meio-dia, a irmã fechava a casa, enchia uma garrafa de café, tampava com um “tucho” feito de palha de milho, catava uns pedaços de pão – quando tinha – e algumas laranjas do quintal. Me dava a mão e saiamos levar o café aos capinadores.
    Uma tarde, agrupados na lavoura, um grande espanto. Um ronco forte e esquisito parecendo vir do céu, se aproximando a cada segundo. Sem demora, num piscar de olhos, passou rasante próximo a nós, um maldito avião monomotor, inteirinho vermelho, pregando susto e espatifando as folhas secas que cobriam o chão e levantando poeira.
    Com a zoada do vermelho, eu criança e caipira, atordoado não sabia se corria para cima ou para baixo. Desesperado, o jeito foi agarrar forte na saia da mãe Bastiana e quem dizia de largar. Era só choro e gritos enquanto os outros procuravam me acalmar.
 - Chegando em casa, lembrar de apagar umas brasas na água e fazer o menino beber para cortar o susto, ordenou o pai Batista.
    Serenados os ânimos com o ronco do bicho sumindo no espaço, o pai com as duas mãos na ponta do cabo da enxada, apoiando o queixo comentou:
 - Os mais antigos sempre disseram que avião vermelho é sinal de guerra, vamos pedir a Deus para que nada disso aconteça.
    A mãe trêmula e ainda assustada com o acontecido, respondeu:
 - Nossa Senhora, nem diga uma coisa dessa. Se estourar uma guerra será uma desgraça, ela só serve para matar inocentes e inclusive nossas crianças...
    Os anos foram passando e para o nosso bem e de todos nada disso aconteceu.
     Permanecemos na pequena morada por mais algum tempo, até quando o pai resolveu nos arrastar para a cidade em busca de escolas para os filhos e de melhores dias.
    Décadas se passaram e infelizmente pai, mãe e irmãos mais velhos se foram.
    Nunca mais vi avião vermelho. Vejo constantemente através de jornais e TV aviões de variadas cores, fazendo guerras, despejando bombas matando inocentes e, inclusive crianças.
             
                                                        TIO BATISTA NA CIDADE
    Em 1937 ele veio, com a família para Monte Sião. Comprou do Sr. Joaquim Zeca (antigo ferreiro da cidade) um velho casarão na Rua Temístocles Barcelos, 473, mais conhecida como Rua do Sapo (Hoje Rua Ernesto Gotardello).
    Anos depois ele demoliu esse casarão e construiu uma casa de moradia e comércio com varejo e atacado e revendia para outros comerciantes.
Ainda continuava com o comércio de aves e ovos, que eram transportados semanalmente para São Paulo. No retorno trazia as mercadorias e abastecia comerciantes de Lindóia, Thermas de Lindóia, Monte Sião e Ouro fino. Nesta época montou uma Transportadora “Expresso Mineiro”, com 4 caminhões novos. A frota também transportava água mineral “Lindóya” para os Irmãos Carrieri, na Alameda Dino Bueno, Bairro da Luz, São Paulo.
    Anos depois transferiu residência para São Paulo, onde adquiriu um grande empório na Rua Conselheiro Nébias, esquina com a Alameda Glete, atrás do Palácio do antigo governo Ademar de Barros.
Posteriormente, a convite de seu sobrinho atacadista em Marumbi, Virgilio Brischiliari, transferiu-se para a filial do vilarejo de Ubaúna, município de São João do Ivaí, na compra de cereais, onde permaneceu por diversos anos.
Retornou para Monte Sião, fixando residência própria na antiga Rua XV de Novembro, 155 (hoje Rua Tancredo Neves).
    Mesmo na velhice tio Batista sempre foi cortês para com todos, principalmente com sua esposa, Sebastiana. Quando ia levá-la com seu carro ao salão de beleza (ela era vaidosa), às compras ou a missa vespertina dos sábados, ele gentilmente, descia do carro, abria a porta do veículo, e de mãos dadas a conduzia.
Outra sua companheira inseparável era a sanfona “Stradella”, importada da Itália quando ainda mocinho, pelo seu pai, meu nono Luigi.
    Nasceu em 05 de fevereiro de 1905.
    Faleceu em 1993, com 88 anos.
    Tia Sebastiana nasceu em 02 de janeiro de 1903.
     Ficaram casados durante 65 anos.
    Sua frase: “Se fosse para voltar ao passado, desde criança até moço, eu não queria,... sofri muito”.

Tio Batista e sua sanfona "Stradella". Quantos bailes ele animou com esse instrumento.


Tia Sebastiana e sua filha Assunta Aparecida(Tchida), esposa de Luiz Rieli.
       Tio Batista e seu filho Mário, quando residia em São Paulo.
Os três caminhões de Tio Batista(de chapéu e gravata) - Expresso Mineiro/Monte Sião-São Paulo.
Os engradados com frangos estão no caminhão do centro.
 Tio Batista e Tia Sebastiana quando moravam em Ubaúna, perto de Kaloré-PR,
onde negociavam aves, cereais e criavam porcos em 1968.
                                          Tios Sebastiana e Batista 

Carteira de Identidade - 1943.


Certificado de Reservista.





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