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quinta-feira, 26 de julho de 2012

Tio Elias Labigalini - Fatos - Na guerra e no Brasil

 Tio Elias nasceu em Vobarno, Itália no dia 03 de novembro de 1890.
O nome correto dele era Giovanni Batista Elia Labigalini.


                                 TIO ELIAS NA GUERRA
A Itália faz fronteira com 4 países: França, Suíça, Áustria e Eslovênia.
Esta guerra, chamada de GUERRA ÍTALO-TURCA ou TRIPOLITANA, iniciou-se em 1911, na cidade Cirenaica (hoje conhecida como Líbia, no norte da África).
O motivo dessa guerra foi o seguinte:
A Turquia mantinha o domínio sobre este país (hoje Líbia).
A Itália já tinha, há muito tempo, uma colônia neste país, que era de grande interesse financeiro de alguns grandes bancos italianos, inclusive do “Banco di Roma”, (legado da aristocracia romana e do Vaticano). Esta foi uma guerra de expansão colonial. Trípoli é a Capital da Líbia, daí o nome de “TRIPOLITANA” ou “ÍTALO-TURCA”.
O governo italiano Giolitti acreditava que, enfraquecendo os turcos na Líbia, esta ficaria sob o domínio da Itália, permitindo sua expansão colonial. Foram tentados vários acordos diplomáticos, mas sem sucesso. Como o inverno estava se aproximando, ficaria difícil o envio de tropas para a Líbia. Giolitti necessitava da aprovação do Parlamento para declarar guerra, mas este estava de férias.
Em 10 de dezembro de 1910, Tio Elias foi convocado para esta Guerra e foi servir no 18° Regimento de Infantaria, no 4° Batalhão e seu número era 31.630. Desde que ele partiu, sua mãe -minha nona- acendeu uma velinha, num copo com azeite e a deixou acesa  até o término da Guerra, orando todos os dia pedindo proteção para que seu filho regressasse sem ferimentos.
Em 29 de setembro de 1911, a Itália, sob pretexto de violência dos turcos contra cidadãos italianos na Líbia, declarou guerra à Turquia (usando somente o artigo 5º do Estatuto). Mobilizou o Exército, a Marinha e a Aeronáutica e enviou 35.000 soldados para a Líbia. Em seguida embarcaram mais 100.000 combatentes sob as ordens do general Carlo Caneva. Em 5 de outubro do mesmo ano, já haviam ocupado Trípoli (a capital) e Bengasi. No dia 23, uma audaciosa contra-ofensiva Turca, matou 400 soldados italianos. Em represália os soldados italianos começaram a matar civis. Este fato causou indignação e repúdio nos jornais do mundo todo contra a Itália. Esta reação dos jornais causou muitos dissabores à Itália, pois a guerrilha já estava sendo apoiada por todos os países árabes em favor da Turquia.
A Turquia preparou outra contra-ofensiva, mas a Itália iniciou uma operação naval no Mar Egeu. A frota italiana bombardeou os fortes turcos de Dardaneli e defrontou-se com a frota turca no Estreito, travando uma violenta batalha. A Itália saiu vencedora porque seus canhões eram superiores aos dos turcos.
A frota italiana prosseguiu no seu avanço e desembarcou contingentes em Rodes, ocupando 12 ilhas (Dodecanneso) de Stampalia, em frente à Costa Mediterrânea da Turquia. Estas ilhas eram estrategicamente importantes.

Correspondências trocadas durante a Guerra:
Carta enviada por Nona Lucia à seu filho Elias (1912).
Carta do Nono Luigi à seu filho Elias:


Carta de Tio Primo à Tio Elias:
Cartões postais de Tio Elias a seus pais:
N° 1 - Livreto com os dados pessoais de Tio Elias
N° 2 - Livreto de exercícios de tiro.
Trabalhos diplomáticos foram colocados em prática com o objetivo de colocar um fim à guerra.
 A Itália apresentou uma proposta: se o governo turco retirasse suas tropas da Líbia, a Itália devolveria as 12 ilhas. A Turquia, enfraquecida e cansada, cedeu. A paz foi firmada em Losanna, em 18 de outubro de 1912. O sultão turco renunciou ao controle administrativo sobre Trípoli e Líbia. A Itália obteve os dois locais, mas sua soberania ficou limitada por muitos anos exclusivamente à faixa costeira.
FOGLIO DI CONGEDO ILLIMITATO

PER firmo di ferma
che si riluscia a Labigalini Giov. Battista
             soldato
nº di matricola 31630 (4º) Il quale prende domicilio nel Comune di Vobarno.
Mandamento di Saló                                           Distretto militare di Brescia
       Durante Il tempo passato sotto Le armi ha tenuto                                                            
Buona condotta Ed ha servito com fedeltà Ed onore.
A cinqui addi Febraio 1913
Firma Del Titolare                                    Il Comandante Del Corpo
                    Comune di Vobarno
Visto, addi 5 feb. 1913                             Il  Sindaco

                    TRADUÇÃO
1ª Categoria      Corporação da qual foi transferido no ato de Dispensa Infantaria – Brescia.18º Regimento da Infantaria
                    BOLETIM DE DISPENSA ABSOLUTO

  Para assinatura de alistamento que se emite a Giovanni Batista Labigalini
                    soldado
Matrícula nº 31630 – 4º Batalhão, o qual ocupa
domicílio na Comunidade de Vobarno.
Por ordem de Saló – Distrito militar de Brescia.
       Durante o tempo passado sobre as armas, teve boa conduta e serviu com fidelidade e honra.

   Em 5 de fevereiro de 1913
Assinatura do Titular                         Comandante da Corporação
                    Comunidade de Vobarno
Visto, em 5 de fevereiro de 1913               O Prefeito



                               RETORNO PARA CASA

Tio Elias tinha muita sorte e vontade de viver. Seu sonho era regressar ao Brasil, casar e construir família. A guerra terminou em 18 de outubro de 1912. Sua baixa como soldado foi em 5 de fevereiro de 1913. Enfim retornou ao aconchego do seu lar onde a família aguardava ansiosa sua chegada. Agradeceram a Deus pela sua volta sem nenhum ferimento. Todos rezaram pelo final feliz e nona apagou a velinha. Durante um ano tio Elias teve pesadelos, trauma da Guerra. Acordava de madrugada e gritava que os inimigos estavam chegando e queria pegar a arma para se defender.

TRADUÇÃO

                           Guerra Italo-Turca
   Vobarno agradecida a seus filhos que, sob os campos da Líbia, renovaram as glórias de Roma, homenageia solenes honrarias e como lembrança, oferece a Medalha Comemorativa.
             Em 12 de abril de 1913
O Prefeito
O Conselheiro Ancião                               O Secretário
Giovanni Batista Labigalini, filho de Luigi Labegalini  e Lucia Crescimbeni.
Da convocação de 1890  - 1º Regimento de Infantaria, com número 31630 4º Batalhão.
   Por deliberação do Conselho
       Em 2 de junho e 1 de dezembro de 1912    

                         


                          TIO ELIAS NO BRASIL
 Em 1913 Tio Elias veio juntamente com seus pais e irmãos novamente para o Brasil e foram residir na mesma fazenda de café em que tinham morado no bairro Eleutério no múnicipio de Itapira-SP.
Em 11 de dezembro de 1915 casou-se aqui em Monte Sião com Regina Riguetto.

Posteriormente mudaram-se para o bairro dos Rubim, múnicipio de Jacutinga-MG. Esse bairro passou a ser conhecido como bairro Labegalini.
Em 1945 tio Elias adquiriu um armazém em Jacutinga, na vila Tonini e mudaram-se para lá. Em 1947 ele comprou o armazém de seu irmão Batista aqui em Monte Sião, na Rua Ernesto Gotardelo (mais conhecida na época de Rua do Sapo). Posteriormente vendeu esse armazém para o Gino Labegalini e mudou-se para São Paulo, na Vila Maria. Em 1949 comprou 50 alqueires de terra no Paraná – na futura cidade de Kaloré - , perto de Marumbi.
Era só mata. Doou 5 alqueires para cada filho. Ele e os filhos desbravaram a mata e ajudaram na formação da cidade. Foram eles que construíram a segunda casa do vilarejo.
Muitas vezes fui visitá-lo em Kaloré, no Paraná. Ele gostava de conversar comigo e relatou vários episódios de sua passagem pela guerra:
     “Num combate, todos os meus companheiros morreram, só restando eu. O inimigo avançava em minha direção verificando se realmente os soldados estavam mortos. Cortavam as orelhas ou enfiavam a baioneta nos corpos para verificar se estavam vivos. De longe, eu os vi aproximando. Deitei-me em uma valeta e arrastei alguns corpos para cima de mim, permanecendo imóvel. Quando percebi que os inimigos se foram, levantei-se e caminhei três dias, sem alimentar-me, bebendo somente água. Eu me encontrava infestado de piolhos e consegui chegar até nosso acampamento. Quando lá cheguei, soube que meus superiores já tinham riscado meu nome da lista dos vivos. Contentes pelo meu regresso, escreveram em meu quepe: ‘Un morto ressuscitato’.
    Numa outra batalha, restaram apenas poucos soldados do meu pelotão. Estávamos no deserto da Líbia onde havia alguns coqueiros que eles denominavam de “dáttaro”. Em seu tronco havia nós, facilitando a escalada até a copa. Ouvimos  tiros, as balas vieram em nossa direção, porém nenhuma nos atingiu. Não se via ninguém. Meu superior alçou o binóculo para descobrir de onde vinham os disparos, mas nada conseguia ver. Em seguida, passou-me o binóculo dizendo: ‘Labigalini, veja se consegue localizá-los’.
Consegui visualizar dois soldados a uma determinada distância. Como eu era um atirador de elite, com dois disparos de fuzil eliminei os inimigos. Momentos depois aproximamos dos soldados mortos e verificaramos que as baionetas colocadas nas pontas dos seus fuzis estavam envenenadas.
       Em outro combate, o inverno estava rigoroso e o frio intenso. A batalha estava acirrada e os inimigos fuzilavam tudo à sua frente: soldados e cavalos.
Eu e meus companheiros não dispúnhamos de agasalhos adequados e nem de luvas para nos protegerem do frio mortal. Corríamos sérios riscos de morrermos por hipotermia. Para nos aquecer, abriamos as barrigas dos cavalos mortos e colocávamos ali nossas mãos congeladas. Conseguimos sair daquele desespero e estávamos em frente a uma muralha velha, quando um tiro atravessou meu quepe, alojando-se na parede. Mais tarde, com a ponta da baioneta, retirei a bala, que ficou guardada como ‘recordação’ da guerra.
     Em outro ocasião, eu e um soldado encontrávamos ao redor de uma cisterna, com muita sede. Amarrei uma pequena caneca na ponta de uma cordinha para retirar a água. Quando ia atirá-la dentro do poço, meu colega disse:  ‘Deixe que eu faço isso’.
 Pegou a cordinha e quando ia jogá-la, foi atingido por um disparo, caindo dentro do poço. Mais uma vez escapei ileso. As preces que minha mãe fazia diariamente foram atendidas”.


 Meu pai e eu sempre íamos visitá-lo. A ultima vez que fui vê-lo, ele estava sentado na sala ouvindo o rádio. Tia Regina estava na cozinha, cantarolando uma música italiana. Fui até lá abraçá-la. Estava mexendo polenta no fogão à lenha, saia longa ate aos pés descalços, como gostava de ficar. Ela estava sempre alegre, risonha, simpática e quando se levantava já começava a cantar. Jantei com eles e também dormi no delicioso colchão de palha de milho. Acordei de manhã ouvindo os pingos da chuva que batia no chão. Estava tão gostoso que dormi mais um pouquinho.
       Tio Elias sempre dava conselho aos filhos, dizendo sempre em italiano:
“Penso i ripenso. De mio pensiero ricavo, che é meglio vívere di stupido, che morire di bravo”.
Traduzindo: “Penso e torno a pensar. Do meu raciocínio, acho que é melhor viver cauteloso do que morrer como herói”.
 Ele faleceu na cidade de Kaloré-PR em 28 de fevereiro de 1975 com 85 anos de idade.
Tia Regina nasceu em 21 de outubro de 1894 e Faleceu em 1° de maio de 1977 em Kaloré com 83 anos de idade.



  Frota da Família Labigalini em Kaloré-PR . No destaque Tio Elias e Tia Regina.
  Em 1935 Tio Elias morava em São Caetano-SP com a família.
  Tia Regina queria visitar seus parentes em Jacutinga-MG, juntamente com seus 9 filhos. Para poder viajar com os filhos ela teve que tirar um Salvo-Conduto, uma espécie de autorização do delegado para isso.


8 comentários:

  1. Meu nome é Vanderlea Maria da Cruz Marques, atualmente resido em Palmital PR, mas nasci em Kaloré, sou bisneta do nono Elias Labigalini e da nona Regina Riguetto Labigalini.Eles eram pais da minha avó, Mafalda Labigalini casada com Benedito Pinheiro de Toledo, que também nasceu em Jacutinga. Minha avó está com 85 anos e meu avô com 87, ambos fortes e com saúde. Fiquei emocionada em relembrar a história do nono e visualizar os objetos e cartas que fazem parte da história da vida dele e, consequentemente da minha história também.
    Abraços

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    1. Vanderlea,
      Desculpe, pois errei no seu nome.
      Abraço a todos, Marcio.

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    2. Vanderlea, conheço seus avós Benedito e Mafalda que moram em Kaloré. Já fui diversas vezes visita-los e sempre que fui lá eles estavam sentados num banquinho na varanda da cozinha.
      Na minha árvore genealógica você é filha do casal Wilma Pinheiro e João Nepomuceno e suas filhas são Alexandra, Carlos Henrique e Luiz Ricardo Marques. Se estiver faltando alguma coisa entre em contato comigo.
      Meu e-mail é romildolab@gmail.com

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    3. O Márcio é meu filho.

      Um abraço, Romildo

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  2. Olá Vanderla, muito prazer em saber do seu interesse... Mas pode ter certeza que o baú ta cheio de reliquias que vão emocionar muita gente.
    Forte abraço a todos da familia e por facor envie fotos do pessoal dai de Palmital.
    meu emial é marcio@labigalini.com.br

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  3. Olá Pessoal.
    Meu nume Elias Amaro Labegalini,sou filho de Evaldo Labegalini,que é filho de Benedito Labegalini como citado acima.
    Fiquei muito contente em saber um pouco mais sobre a historia da minha família e suas descendências.
    Já Morei na cidade de Kaloré,mas atualmente moro na cidade de araraquara com meus pais,mas todo fim de ano como costume nós viajamos para Kaloré aonde temos muitos parentes.
    Parabéns pelo blog.

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    1. Prezado parente Elias,
      Fiquei satisfeito em ler o seu comentário.
      Se estiver faltando algum nome na sua árvore genealógica peço o favor de me enviar para atualização.
      Um abraço, Romildo Labigalini

      romildolab@gmail.com

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  4. Uma história maravilhosa, que demonstra todo o espírito heroico de um homem que marcou seu nome na família Labigalini&Labegalini. Um exemplo para todos nós!!

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