(Márcio Labigalini, 18
de fevereiro de 2013)
Meu ponto de partida é a praça de
Monte Sião. Dentro do coreto, de frente para a Igreja, ainda vejo os ciprestes
antigos do meu pensamento de menino, aquelas obras de arte do “Seu Estevão”.
Giro um pouco para a direita e vejo o antigo casarão dos Pennacchis na esquina.
Inicío, então, a minha descida pela Rua Direita.
Rapidamente
sou guiado pelo cheiro de um doce familiar e entro na padaria à minha esquerda.
Do lado de lá do balcão vem o Mário Labegalini ao meu encontro, que me serve um
bombocado, com seu tradicional “oooobrigado”. Saio da padaria e vejo os irmãos
Zucato, o Ney e o Rubens, na farmácia ao lado. Continuo minha descida e do lado
esquerdo vejo outra farmácia do Sr. Assumpto Volpini e lá dentro o “seu“
Raimundo (todo de branco) lendo algo interessante.
Um pouco mais a frente ainda à
esquerda, vejo o Aurélio Jacomassi saindo de sua casa. Então, vejo o Bar do
Peri e lá dentro o “seu” João e o Toninho Comuni conversando. Cumprimento os
dois que me acenam alegremente.
Escuto as batidas das bolas de
bilhar e vejo o Vitório Cétolo em seu bar na esquina em frente. Na outra
esquina vejo o casarão dos Canelas e corro pra casa da nonna Narcisa Comuni.
Antes de chegar, passo correndo pelo “seu” Renato Franco Bueno e sinto o cheiro
de couro da sua loja, onde fabrica selas.
Dou duas batidinhas na porta da
casa da nonna e entro, como sempre fazia. Na salinha à direita vejo o “Tio”
Lúcio Canela conversando com seu pai, o Adolpho Canela, que ainda estava em sua
cadeira de rodas. Peço “bença” aos dois e corro prá cozinha. Lá dentro aquela
enorme mesa, eu tão pequeno e ela tão alta, cheia de macarrão caseiro e gnocchi
na farinha, onde não resisti, estiquei os pés e peguei um. Assim que coloquei
na boca a nonna Narcisa veio brava (com seus olhos claros) e disse-me que comer
cru fazia mal. Colocou o pano de prato nas costas e chamou:
- Maria!
Vejo então a minha madrinha
entrando, já com seus cabelos brancos, mas sem a bengala. Pedi sua benção, me
lembrei do vô Último Labegalini e saí correndo da casa da nonna.
Do outro lado da rua vi o Davino
trabalhando no açougue. Mais abaixo vi o professor Carlinhos Francisco,
sorrindo -me e acenando a mão. Ao lado da sua casa vi a antiga central
telefônica e entrei. Lá a telefonista parecia enroscada em meio à tantos cabos
e vi o número 165, telefone do meu avô.
Saí de lá e vi o Flívio Monteiro
e sua mulher dona Odila Andretta. Antes do hotel, vi o Miltão de Castro e logo
a seguir, o Rafael Guarani, com seus eternos óculos escuros. Senti o cheiro de
pão e vi o “seu” Pedro Galbiati e sua esposa dona Palmira na padaria. Entrei e
pedi um arroz-doce. Saí de lá e vi o “seu” Plácido Bernardi em sua loja
descansando na cadeira de balanço.
Na janela da casa da esquina do
lado direito, vi a avó Emília Gotardello conversando com seu filho Jair Zucato.
Ouvi então um violão e uma
clarineta. Na outra esquina, dos Moteranis, estavam ensaiando o Ugo Labegalini
e o Pascoal Andreta, que me chamou de Rumirdinho.
Olhei para a casa do meu avô e vi
um menino cabeludo descendo as escadas com as chuteiras nas mãos. Subi a escada
vermelha, abri a maçaneta da porta e entrei, mas lá dentro não havia ninguém.
Desci correndo e vi o menino indo
na direção do campo de futebol da Prainha, perto do rio no final da rua.
Na casa a seguir ouvi uma
conversa com sotaque italiano e lá estavam o Tio Batista e Tio Antônio, mas não
o meu avô. Perguntei onde ele se encontrava e disseram-me que tinha ido ver o
Luizinho jogar futebol naquele campinho. Entendi então que aquele menino era o
meu Tio Luiz e corri na direção do campo.
Mesmo com pressa, vi o “seu”
Tonico Canela e sua esposa dona Adalgisa na janela do sobrado deles. Depois vi
o Zé Alexandre Bernardi conversando com a sua mãe dona Cidinha e passei em
frente do antigo armazém do Atilio Corsi. O caminhão do Dalo estava saindo do
antigo armazém do vô Último e vi o tio Étore Nicioli, que gritou, abrindo um sorriso e
ainda mais os olhos: - Tô indo pra Jacutinga!
Continuei
em frente, até que cheguei ao campo da Prainha. Lá vi o Jair Codorna, o Gordo e
o Tio Luiz, já sem cabelos, orientando um jogo do “Garapa”. Mas não vi meu avô.
Abracei meu Tio Luiz e perguntei-lhe
onde estava meu avô e ele me disse que seu pai havia retornado para casa.
Resolvi voltar para lá, já sem
tanta pressa, e senti o cheiro do biscoito caseiro do Dito Cirino. No fundo da
casa, vi o forno e ele me deu um biscoito para saborear.
Em frente da casa do meu avô, vi
o Canelão e sua esposa dona Helena Canela com uma criança no colo. Apareceu, de
repente, uma senhora de uns 38 anos de idade, que eu não reconheci e pegou o
menino no colo levando-o para dentro da casa do meu avô.
Mais uma vez subi correndo as
escadas e abri a porta da casa dele, novamente deserta. Procurei em todos os
cômodos e não vi ninguém, só o telefone preto antigo, entre a copa e a sala.
Peguei meu celular e disquei o número do telefone do meu avô, 165: O telefone
tocou e um clarão azul veio do quarto, de onde meu avô saiu pra atender com seu
sotaque italiano:
- Prrooonto!
- Bença Vô.
- Deus te abençoe Marcinho!
- Vô, quem era aquela senhora com
o bebê no colo que entrou aqui?
- Era a sua vó Júlia Taveira,
minha primeira esposa. Ela veio trazer o nosso filho Zé Otávio para permanecer
junto de nós.